Muitas vezes, egoísticamente confesso, penso
que somente eu possa estar sentindo o enclausuramento causado pelo "cinza da cidade grande"... Mas é que sinto falta do
verde da minha infância, das porteiras que se abriam rumo as minhas fantasias caipiras...
Sonho com o pôr do sol, com a lua cheia, com o cheiro do mato e com o barulho
do carro de boi... Vejo dois caminhos, retornar a minha vida bucólica ou ficar torcendo para que as próximas
férias venham logo... Como a primeira opção está fora de cogitação pelo menos por
enquanto, vou encarar mais uma ruga ou um novo fio de cabelo branco que com
certeza brotarão neste cenário cinza que escolhemos viver...
Bom... Sonhar
eu posso e sonharei com cada raio de sol tocando a terra nua, com a lua
refletindo no riacho, com o vento
beijando as folhas do Ipê Amarelo... Me transportarei de quando em vez, para a estrada cascalhada que
me leva ao paraíso e sendo mais audaciosa, sonharei com uma cidade bucólica onde as famílias se
encontrarão nas praças iluminadas, ao som da banda local e com o pipoqueiro fazendo
parte deste cenário cinematográfico que parece estar longe de ser reconquistado... Sem perder o foco, pouco a pouco em meu
sonho, a cidade vai sendo humanizada tanto por fora como nos corações dos
homens...
Posso ser
rotulada pela essência que não deixo escapulir do meu corpo e da minha alma e
assim como a arte pode ser confundida com frescura não me importo
de ser confundida com sonhadora...
Cada vez que
deixo minhas raizes, fica mais difícil de equilibrar em outros solos, por
mais que os conheça. Coração apertado. Alê Casarim 21/07/2012
Oh! que
saudades que tenho
Da aurora
da minha vida,
Da minha
infância querida
Que os
anos não trazem mais!
Que amor,
que sonhos, que flores,
Naquelas
tardes fagueiras
À sombra
das bananeiras,
Debaixo
dos laranjais!
Como são
belos os dias
Do
despontar da existência!
— Respira
a alma inocência
Como
perfumes a flor;
O mar é —
lago sereno,
O céu —
um manto azulado,
O mundo —
um sonho dourado,
A vida —
um hino d'amor!
Que
aurora, que sol, que vida,
Que
noites de melodia
Naquela
doce alegria,
Naquele
ingênuo folgar!
O céu
bordado d'estrelas,
A terra
de aromas cheia
As ondas
beijando a areia
E a lua
beijando o mar!
Oh! dias
da minha infância!
Oh! meu
céu de primavera!
Que doce
a vida não era
Nessa
risonha manhã!
Em vez
das mágoas de agora,
Eu tinha
nessas delícias
De minha
mãe as carícias
E beijos
de minha irmã!
Livre
filho das montanhas,
Eu ia bem
satisfeito,
Da camisa
aberta o peito,
— Pés
descalços, braços nus
—
Correndo pelas campinas
A roda
das cachoeiras,
Atrás das
asas ligeiras
Das
borboletas azuis!
Naqueles
tempos ditosos
Ia colher
as pitangas,
Trepava a
tirar as mangas,
Brincava
à beira do mar;
Rezava às
Ave-Marias,
Achava o
céu sempre lindo.
Adormecia
sorrindo
E
despertava a cantar!
Oh! que
saudades que tenho
Da aurora
da minha vida,
Da minha
infância querida
Que os
anos não trazem mais!
— Que
amor, que sonhos, que flores,
Naquelas
tardes fagueiras
À sombra
das bananeiras
Debaixo
dos laranjais!
Casimiro
de Abreu